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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

É preciso repensar o calendário do rugby paulista


Durante o jogo entre Argentina e Irlanda, na manhã do último domingo, uma fala do Victor Ramalho me chamou a atenção: dentre as possíveis causas da queda das seleções do hemisfério norte nas quartas-de-final da Copa do Mundo de Rugby, estaria o calendário do hemisfério norte. Mais longo e abarrotado que o calendário do hemisfério sul, o calendário do hemisfério norte estaria a exaurir os atletas nortistas. Tal reflexão pode ser lida com maior profundidade e qualidade clicando aqui.
Dessa feita, comecei a refletir sobre o calendário brasileiro, principalmente pelo fato de o Super 8 ter tido seu modo de disputa esticado nessa temporada e por observar que as 4 derrotas do Wally's, que disputava simultaneamente o Paulista B e a Taça Tupi, ocorreram nos últimos 5 jogos da temporada. 
O Wally’s fez 20 jogos na temporada toda, deslocando-se cerca de 7000km por estados do Sudeste e Sul e ainda deve fazer mais 1 jogo, o da repescagem para a Série A do Paulista. Em comparação, o San Diego, que derrotou os listrados na semifinal da Taça Tupi, também fez 20 jogos, mas deslocou-se cerca de 4500km e apenas por estados do Sul. A equipe também fará mais 1 jogo nessa temporada, o da repescagem para o Super 8.
Bem, o que se pode observar é que, apesar da mesma quantidade de jogos, o Wally’s deslocou-se mais que o San Diego. Além disso, a equipe paulista não teve nenhuma folga desde o início da Taça Tupi, em 04 de julho, e apenas uma folga antes do final do Paulista B (justamente o final de semana da final da Taça Tupi e o anterior a final do Paulista B). Isso sem levar em conta o final de semana no qual o jogo entre Wally’s e Rio Branco não ocorreu. No mesmo período, a equipe gaúcha teve quatro finais de semana sem jogos e, apenas uma vez, jogou três finais de semana consecutivos. 
Se formos observar as estatísticas do União Rugby Alphaville (URA), equipe que derrotou o Wally's na final do Paulista B, temos que a equipe fez 11 jogos na temporada, tendo rodado pouco mais de 950km. Para termos de comparação, no período pós-início da Taça Tupi (que não disputou), o URA teve nove finais de semana livres – incluindo os dois anteriores a final do Paulista B – e não jogou em finais de semana seguidos. 
Isso tudo pode parecer bobagem, mas se o cansaço já foi considerado como parte do fracasso das seleções europeias na Copa do Mundo de Rugby e, também, da derrota do Japão frente à Escócia na mesma competição, imagine como o cansaço pode afetar o desempenho de jogadores amadores.
Tais fatores, obviamente, não desmerecem as vitórias do San Diego e URA (e também do Rio Branco e Ilhabela) frente ao Wally’s, mas demonstram que a equipe listrada certamente sofreu com o cansaço durante esses confrontos. Problema similar teria o Lechuza, se se classificasse para a fase de grupos da Taça Tupi.
Bem, o que temos aqui é algo bem particular ao estado de São Paulo, já que não se vê em outros estados equipes de divisões menores jogando competições nacionais. Logo, esse é um problema que tem que ser levado em conta pela Federação Paulista. "Ah, mas estamos falando de apenas time num cenário com 38 times jogando as diversas divisões paulista! Não se pode generalizar para o todo!". Bem, isso não é de todo inverídico, mas o Lechuza também poderia ter se prejudicado com o cansaço caso se classificasse na fase preliminar. Já seriam dois times, ainda que o argumento não perca o seu peso.
Ainda assim, o calendário paulista também causa distorções em outro sentido: a Poli, se não se classifica para a fase de grupos da Taça Tupi, ficaria sem competição alguma para o segundo semestre – ainda que pudesse tentar participar do Universitário, competição com poucos jogos e que não impactaria muito no calendário da equipe. O Wally's, na temporada passada, e o Tornados, nessa temporada, sofreram com o fato de não terem competições oficiais no segundo semestre, ainda que os jogadores do Tornados tivessem a opção de jogar pela equipe de desenvolvimento do clube na Série D do Paulista.
Bem, o argumento de que no total de equipes que jogam as divisões paulista (48), a amostra de equipes prejudicadas ou que podem ser prejudicadas pelo calendário é pequena, mesmo que se pegue apenas as Séries A e B, é um argumento racional e lógico. Mas, no meu entender, não buscar alternativas que deixem de prejudicar essas equipes, sem prejudicar as outras, não é algo que possa ser considerado como próprio ao rugby e, também, pode prejudicar o esporte no estado a longo prazo. Fazendo um exercício de especulação, o crescimento e fortalecimento das equipes de outros estados podem, muito bem, colocar São Paulo num cenário onde nem todas as equipes do Paulista A estejam no Super 8 ou Taça Tupi: o que farão essas equipes no segundo semestre? E mesmo que joguem essas competições, o que farão se também estiveram na Série B do estado?
Bem, estes são cenários que não existem e tem pouco probabilidade de acontecer. Mas insisto que isso, apesar de improvável, é possível e, com isso, a Federação Paulista tem que estar atenta... Tem de pensar antecipadamente. E, de novo, insisto que, mesmo que seja um único time a ser prejudicado, a Federação tem que pensar em maneiras de minorar isso. Sendo assim, entendo que, como já sugeri à FPR quando era vice-presidente do São Carlos, poderia ser pensada uma competição paulista no segundo semestre que reunisse todas as equipes de todas as divisões que não estivessem jogando nacionais. Com isso, obviamente, as divisões menores do Paulista teriam que começar e acabar no primeiro semestre.
Essas divisões poderiam continuar com 10 equipes cada, mas ao invés de todos contra todos, poderiam ser divididas em 2 grupos de 5, com jogos de ida e disputas finais como atualmente ocorrem: 1º a 4º, 5º a 8º e 9º e 10º. Já a Copa Paulista, nome fantasia pra essa competição do segundo semestre, poderia ser disputada em grupos de 4 a 5 equipes, misturando-se as divisões, e com playoffs para decidir os campeões - Taça Ouro, Prata e Bronze. Com isso, talvez as equipes que só disputassem os paulista tivessem um pequeno aumento no número de jogos por ano: atualmente são 11-12 jogos e aumentaria-se para cerca de 15 jogos. Um número que entendo razoável para equipes amadoras, mas que faria o calendário paulista ter de começar um pouco mais cedo. Além disso, também tem de ser observado como esse aumento impactaria os árbitros paulistas, que já tem se desdobrado para dar conta dos jogos.
Entendo que tal proposta deve mexer com muita coisa, mas ela pode ser positiva para o esporte no estado, fortalecendo-o ainda mais, visto que geraria mais intercâmbio entre as equipes. Além disso, imagino que duas competições para cada equipe no ano podem trazer mais interessados para as mesmas, tanto em termos de patrocínio como em termos de jogadores, além de manter o nível competitivo em alta entre os atletas. E isso, além de tudo, resolveria os problemas demonstrados no texto, sejam eles reais ou possíveis de existência, sem prejudicar as demais equipes.

Comentários
2 Comentários

2 comentários:

Anônimo disse...

Leo. Grande satisfacao ler o blog. Infelizmente tenho que descordar de vc. Acredito que a temporada deveria ser entre Marco a Agosto ou Setembro no maximo. Meu calendario aqui funciona muito bem dessa forma e jogamos todos os finais de semana, tendo 3 a 5 semanas de by. Acho que a prioridade deveria ser um campeoanato nacional e os estaduais sendo utilizados para times menores ou em desenvolvimento. Grande abç. Bombeiro

Leonardo Carniato disse...

Bombeiro, muito obrigado pelo comentário! Principalmente por abrir um outro leque da discussão do calendário: a questão geográfica.
Sei que é importante termos um campeonato nacional forte, mas o Brasil é um país de dimensões continentais e isso é problemático mesmo para o futebol. Entendo que no rugby, onde as equipes estão mais afastadas de si e o apoio financeiro é praticamente zero, um calendário com jogos todo final de semana é muito custoso e desgastante. Dessa feita, o campeonato estadual é de suma importância tanto para as equipes como para o desenvolvimento do esporte e, por isso, deve ser pensado cuidadosamente.
Por fim, entendo que num cenário com equipes tendo de viajar menos de 100km pra fazer um jogo e com o mínimo de apoio financeiro o cenário é outro. Contudo, isso ainda é um devir para o cenário brasileiro.